Rimos. Choramos de riso. E quase, por muito pouco, não nos mijamos a rir. Sim, é o que dá ter um jantar com a melhor amiga. Há medida que o jantar foi fluindo, Gil foi mandando mensagens, perguntando como estava a correr e dizendo-me como estava correr o trabalho dele. Felizmente era uma noite calma.
Diana ia-me contando as suas últimas experiências no que, a encontros dizia respeito e eu ia-lhe fazendo uma ou outra confidência que, lhe arrancava aquelas gargalhadas contagiantes e que punha os olhos todos do restaurante pregados em nós as duas, sentadas numa mesa discreta a meio do restaurante. Bom, seria discreta caso Diana se risse de uma forma normal e contida, mas a minha amiga era assim, espontânea ao expoente máximo. O que podíamos fazer, se não aproveitar a situação?
Depois de horas a comer Sushi, a brincar com os pauzinhos e a beber saquêque nem umas malucas, acabamos por pagar a conta e sair para apanharmos um táxi até à nossa próxima paragem: um bar acolhedor perto do centro histórico.
Quando lá chegamos a música ambiente condizia com o nosso estado de espírito alegre e bem-disposto. Deixamos os casacos e fomos ao bar buscar as nossas bebidas. Dançamos um pouco. Bebemos. Voltamos a dançar, conversamos e foi aqui que a noite começou a descambar. Diana sentou-se num dos sofás e começou a esfregar a testa, como se estive mal disposta. E estava, dizia-me que não se estava a sentir bem e pediu que a acompanhasse ao WC.
Estava pálida, mais branca que as loiças dos lavabos.
- Estás bem amiga? Oh meu Deus, estás tão pálida! – disse-lhe, enquanto lhe passava a mão pelo braço.
- Isto já passa… deve ter sido da bebida… - disse ela, enquanto se dirigia a uma das cabines com sanita, baixava a tampa e se sentava lá um pouco.
- Queres uma garrafa de água? – Diana fez que sim e eu corri para o bar. Quando regressei, ouvia os puxos dos vómitos da minha amiga. Apressei-me a segurar-lhe a cabeça e o cabelo, ajudando-a a equilibrar-se nos saltos.
- 'Miga… não estou bem. Não me sinto nada bem.
- Eu sei, querida, já reparei. Assim que tiveres força, chamo um táxi e vamos embora.
- Sabes, não me sinto mesmo nada bem.
Foram as últimas palavras de Diana, porque a seguir apagou. Desmaiou-me nos braços e ficamos as duas entaladas na cabine da casa de banho.
Comecei a gritar por ajuda e por sorte, alguém que tinha ido à casa de banho naquele instante não fugiu a sete pés pensando que era uma brincadeira mas foi buscar ajuda. Chamaram a ambulância porque Diana não recuperava os sentidos e eu fui com ela para o hospital.
Fiquei uma eternidade de tempo na sala de espera, à espera que alguém me dissesse alguma coisa. Ninguém vinha com notícias. Mandei mensagem ao Gil, avisa-lo que estava no hospital devido à situação e nada. Nem uma palavra dele. Estava já a desesperar quando uma médica, com cabelos brancos e um olhar meio louco me perguntou se era acompanhante de Diana. Disse-lhe que sim e depois de me informar que ela tinha desmaiado devido a uma violenta intoxicação derivado ao Sushi, que lhe tinham lavado o estômago e que ela se encontrava a descansar e que ia ficar bem, dei por mim a cair na cadeira desamparada. Bolas, podia ter acontecido às duas. E com isto não se brinca.
Assim que a doutora saiu e eu me recompus. Não é fácil lidar com a fase seguinte de um estado de adrenalina intenso, dei por mim a passar os corredores em direcção aos elevadores.
Queria o Gil. Precisava de estar com ele. Precisava de o ver. Já que não me deixavam ver a Diana, talvez com ele pudesse lá ir só para lhe afagar o cabelo e ver que estava realmente bem. Além disso, precisava de consolo. Precisava do consolo do meu homem.
A viagem de elevador demorou séculos e quando as portas se abriram, voltei a sentir um baque profundo no peito. Uma batida falhada. Um mau pressentimento, se quiserem.
Segui pelo corredor em direcção ao balcão principal da pediatria onde uma enfermeira de serviço me indicou que o Dr. Gil estava na sua pausa no vestiário.
Agradeci à senhora ainda que por dentro sentisse o coração gelar. Então se estava na pausa, porque não me tinha dito nada? Avancei determinada até a porta do vestiário, sala que eu tão bem conhecia. Aproximei a mão da maçaneta e quando me preparava para abrir a porta, ouvi uma espécie de gemido. E depois outro e outro. Dois gemidos diferentes. E quando me afastei porque de certeza que me tinha enganado, ouvi um terceiro gemido, só que enquanto que os outros me afastaram da porta, aquele fez-me dar um passo em frente e apurar os sentidos.
Uma raiva crescente tomou conta de mim. Do meu corpo. Do meu discernimento. E antes que a raiva me cegasse, abri a porta de rompante e apanhei o maior choque da minha vida até há data...
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