A viagem até Lisboa decorreu sem qualquer percalço, e assim que chego ao hotel faço o Check in e por sorte fico com o quarto ao lado do Santiago. Ah pois é, vantagens de se ser recepcionista!
Caminho pelo corredor até ao meu quarto e quando chego ao meu destino, Santiago está a sair do quarto dele.
Sabem quando temos mesmo a certeza de estarmos a sonhar, mas também temos a certeza de estarmos acordados? Pois, era essa a expressão dele porque por momentos ficou ali, feito uma estátua e depois abraça-me com tanta força que quase me espreme as costelas...
-Estou a sonhar? Anda entra. – Santiago empurra-me para o quarto e nem me dá hipótese de falar. Beija-me até me faltar o ar e afasta-se de sobrolho franzido com uma pergunta a sair-lhe dos lábios. – Como é que sabias que eu estava aqui? Como me encontras-te?
- Bem, simples fui eu que fiz o teu Check out e a transferência de hotel – lanço-lhe o meu sorriso mais quente – e como morria de saudades tuas, vim fazer te uma surpresa. – giro sobre mim mesma – Gostas?
-Adorei… - Santiago humedeceu os lábios e quando ia a concluir a frase, batem à porta, ele manda-me ficar onde estou, dá dois passos até à porta e abre-a sem me dar tempo de ajeitar a minha roupa.
Enquanto passo os dedos pelo cabelo reparo que está uma mulher do outro lado com um sorriso radiante nos lábios e que ele de repente fica pálido.
A mulher quando me vê, por cima do ombro dele, olha-me de alto a baixo e o sorriso desaparece.
-Posso saber quem é? – pergunta ela, já dentro do quarto, num tom frio e acusatório.
- E quem quer saber? – repondo no mesmo tom. – Calculo que se tenha enganado no quarto, não? – sem saber o porquê, a raiva tomou conta de mim, e a minha resposta não e das mais simpáticas. A mulher por sua vez, deita faíscas pelos olhos e eu sorri abertamente, pensando para comigo que certamente é alguma maluca.
Depois, aconteceu uma coisa surreal, antes que Santiago tivesse tempo de dizer ou fazer alguma coisa, ambas dizemos ao mesmo tempo.
-Sou a mulher do Santiago.
-Sou a namorada do Santiago.
Para meu azar, eu fico em choque mas ela não. A mulher, avança para mim e sem me dar tempo de me defender ou perceber o que se passou, nem tão pouco de assimilar que ele me mentiu, pior, que mentiu a ambas, sinto uma bofetada na cara que me fez cair no chão.
Levanto-me rapidamente e com uma raiva cega pela mentira e por ser agredida sem razão, porque eu não sabia que ele era casado viro-me a ela.
Santiago agarra-me e rapidamente mais homens entram no quarto e agarram na mulher dele. Ela ainda tenta vir na minha direcção para me bater e eu viro-me a ela dando-lhe uma cabeçada no nariz. Solto-me definitivamente de Santiago e viro-me para ele, dou-lhe uma joelhada nas partes íntimas, que o deixa de joelhos no chão a gemer de dor.
-Filho da mãe!!! Mentiste-me, nunca me disseste que eras casado! – lágrimas de frustração correram pelo meu rosto. Enraivecida e envergonhada comigo mesma, descarrego a minha frustração nele, dando-lhe mais um pontapé. – espero que apodreças no inferno seu mentiroso! Seu cabrão! Seu… Seu…
Não consegui dizer mais nenhuma palavra, nenhum insulto, porque a senhora sua esposa também já se tinha soltado, agarrou-me nos cabelos e andou comigo de um lado para o outro. Quando não aguentei mais de dor do couro cabeludo, desequilibrei-me e ao cair ela pontapeou o que lhe apareceu pela frente no meio de um milhão de insultos.
Felizmente um dos empregados do hotel conseguiu tira-la de cima de mim. Quando tento apoiar a mão no chão para me levantar uivo de dor. Merda! Aquela louca tinha-me partido o pulso ao pontapé.
Ignorando a força estranha como o meu pulso estava, levantei-me do chão, segurei a mão junto ao peito e aproximo-me da histérica enraivecida que ameaça Santiago de o capar, enquanto esperneia presa nos braços do pobre empregado, que tal como eu, ia ter uma boa dúzia de nódoas negras quando aquela triste cena terminasse.
-Tem sorte de não apresentar queixa de agressão… Para a próxima tente saber o que se passa, porque sinceramente eu não fazia ideia de que ele era casado.
Ela começou a insultar-me novamente mas o resto de forças que ainda tinha obrigou-me a virar costas e sair daquele maldito pesadelo. No entanto, quando estava mesmo a passar a porta, ainda consegui ouvir dois dos homens do hotel a cochichar entre eles quase em surdina «…nós avisamos que um dia seria apanhado…”
Aquelas palavras doeram mais que todos os pontapés e puxões de cabelos juntos.
Desço as escadas e faço o check out com as lágrimas sufocadas e o choro estrangulado na garganta. O recepcionista fica confuso mas chama-me o táxi tal como pedi.
Assim que o carro Mercedes bege arranca em direcção à estação de comboios para me levar de regresso a Évora, começo a chorar descontroladamente. Não pelas dores cansadas pela agressão, mas sim por ter sido enganada pela segunda vez…
Bela surpresa
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