Os últimos dois meses tinham sido assim: trabalho, Santiago e noites de paixão. Confesso que me sinto cada vez mais atraída e incansável, querendo sempre mais dele.
Sei que ele terá de ir embora, porque tem de voltar ao serviço, e segundo me contou Santiago vai para Lisboa uma vez que é engenheiro naval e parece que tem lá uns serviços de última hora para fazer.
A noite passada foi uma noite de paixão. Uma noite de despedida, como a noite anterior… e a outra antes dela…
Sim, porque apesar de eu perguntar quando ele se vai embora, Santiago não me diz. Confessa que não quer ir, que vai morrer de saudades mas que o dever e a profissão chamam aos altos berros e ele não pode dizer que não.
Mas acima de tudo, Santiago promete-me que volta para me vir buscar e que vai pensar em mim a cada segundo. Coisa que por acaso me deixa feliz e ao mesmo tempo com medo. Nunca falamos de namoro ou casamento, mas bolas, se me vem buscar quer dizer alguma coisa, certo?
-Eloísa? Estou a falar contigo. – olho para Marissa, a rapariga da recepção do turno da noite. – Tens de fazer o meu turno, por favor, tenho o Max doente.
- Claro, fica descansada. – sorrio ternamente. – Vai e depois conta-me como está o príncipe.
- Digo sim, obrigada de coração, não sei o que faria sem ti.
- Vá, vai e não te atrases. – empurro-a para que se vá embora.
-É verdade, esta noite tens 3 check out para fazer. Dos quartos número 278, 222 e 134. – abanei a cabeça enquanto ela continuava com o recado, ao mesmo tempo que se afastava pelo corredor de acesso à recepção – O 278 é transferência para Lisboa .
Eu anoto os números quando de repente colo a olhar para a folha porque o número 278 me chama a atenção. É o número do quarto do Santiago.
Ele vai-se embora sem me dizer nada?
Não, não pode ser. Meto essa ideia de parte e continuo o trabalho. Na hora prevista os check out´s estão feitos, um deles com transferência feita para lisboa.
Peço ao Diogo que me substitua um bocadinho enquanto vou à casa de banho, mas depois das necessidades fisiológicas satisfeitas aproveito e vou comer qualquer coisa.
Quando regresso, ainda a mastigar o último pedaço de pão, Diogo gesticula na minha direcção:
- Bem, já estava a ligar para os bombeiros! Estava a pensar que talvez fosse preciso chamar uma equipa de salvamento, pensava que te tinhas perdido na casa de banho. – brincou ele, remexendo nuns papeis – Olha, o 278 já pagou e já foi embora, tal como o 222 que acabou agora mesmo de sair.
-Já? Caramba, não demorei assim tanto, ou demorei?
- Uma eternidade querida, uma eternidade.
- Algum recado para mim?
- Nop, nenhum, agora vou indo boneca, qualquer coisa já sabes: grita.
Deixei o Diogo desaparecer do guiché para me lançar como uma desnorteada à caça do meu telemóvel. Pego nele e vejo se tenho alguma sms, mas nada. Eloisa, queridinha, ele foi embora sem dizer nada!
Inconformada com o que se passou, e com o que o meu inconsciente fazia questão de me relembrar, escrevo uma sms, mas acabo por eliminá-la.
- Nã, vamos ver se me dizes alguma coisa. – sussurro para o telemóvel.
Meia hora depois, o maldito telemóvel contínua mortinho da silva. Nem um maldito kolmy ou sms para dar sinal de vida…
Bom, não posso dizer que o resto do turno correu bem, mas também não correu mal. Correu normalmente, calmo e sem grande alarido. Por outras palavras, secante ao ponto de quase adormecer.
O dia seguinte tive mais da mesma dose e sem qualquer notícia de Santiago. Nem uma maldita sms. N-A-D-A!
Bem, se vos disser que começo a sentir aquela sensação de abandono e tristeza já sabem devido a quê, certo? Começo a aperceber-me de que fui enganada mais uma vez, censuro-me umas mil e quinhentas vezes e quando estou prestes a “cortar os pulsos” o meu telemóvel toca.
Uma sms.
«Olá querida,
Desculpa a partida tão de repente mas ouve um imprevisto, morro de saudades tuas. Ansioso para estar contigo novamente.
Sempre teu, Santiago.»
A criança em mim, juntamente com aquela réstia de esperança, dá saltos de alegria e as lágrimas chegam-me aos olhos. Ele não me esqueceu, ele não me abandonou!
Atropelo os dedos no teclado do telemóvel e apresso-me a responder:
«Olá fofinho, também morro de saudades tuas, dos teus beijos. Volta depressa.
Tua Eloísa»
Nem um segundo depois, o meu telemóvel, até agora morto, agora hiperactivo toca novamente.
«Prometo voltar,
Isto sem ti é tão enfadonho, quem me dera que aqui estivesses.
Santiago»
Sabem como é que me sentia? Como uma adolescente, de cara enterrada no ecrã do telemóvel a escrever à velocidade da luz.
«Se pudesse,voava até ai para te ver e dar-te um beijo
Eloísa»
A sério, namorar pelo telemóvel é excitante.
«Isso seria excelente meu amor, mas não sei se teria tempo, há muito trabalho e umas complicações.
Mas se aqui estivesses devorava te da cabeça aos pés
Santiago»
«Cuidado: prometido é devido, e eu quero ser devorada
A cama tem estado muito fria sem ti.
Eloísa»
*Tenho de voltar ao trabalho.
Beijo doce, e por favor não mordas o lábio, isso excita-me.
Santiago»
Sim, pus-me a sorrir como uma parva para o telemóvel e sim, estava de facto a morder o lábio. Meu Deus, como era possível conhecer-me tão bem?
Enquanto guardava o telemóvel na carteira, antes que me perde-se e continuasse a mandar-lhe mensagens surgiu-me uma ideia que me fez sorrir durante a tarde toda enquanto pensava numa maneira de ir até lisboa…
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