Aquele
maldito som irritante, som irritante simplesmente não cessa, viro-me para a
esquerda estendendo a mão e bato de forma violenta sobre o meu despertador,
este cai quebrando o silêncio sepulcral do quarto, mas o som continua. Irritada
levanto-me e olho em volta sem ver nada, estico-me sobre a cama para acender o
candeeiro e vejo a luz do meu telemóvel a acender e apagar.
-Raios! – pego no maldito
aparelho clicado sobre o verde para atender a chamada. – Sim?
-Estava
difícil ein. – solto um gemido ao ouvir o meu chefe do outro lado. – Preciso de
ti, para ontem, se é que me entendes. – deito-me sobre a minha barriga e
procuro o despertador. – Caramba Alex, são 5 da manha. Não pode esperar? –
quase que choramingo ao olhar para as horas.
-
Oh claro, pode sim, só liguei porque queria ouvir a tua voz. – o sarcasmo não
passa despercebido no meu cérebro enublado do sono. – 5 minutos Melissa, e é
bom que te despaches. – dito isto, desliga o telemóvel e eu fico a olhar feita
tótó para o ecrã do meu. Pouco depois de sair do meu transe levanto-me corro
até a casa de banho tropeçando umas quantas vezes, não, eu não tenho nenhum
atraso motor com o qual possa tropeçar no próprio ar, mas experimentem trabalhar
seguido 24 horas, estar a dormir maravilhosamente bem, umas miseras 4 horas e
acordarem em sobressalto e terem 5 a minutos
para se despachar?! Isto sem falar na parte em que o meu cérebro grita: Vai para a cama, está-se melhor lá,
quentinho, fofinho. Por amor de Deus é melhor do que ir para a rua com esta
chuva horrível lá fora! Entendem não é?
Por fim
despachada, corro até a minha lata velha, e tento abrir a porta, sim ela por vezes encrava e não quer abrir.
- Oh vá-la,
abre lá sua lata velha maldita, custa assim tanto abrires? – rosno furiosa para
o carro, como se este entendesse patavina do que lhe digo. Estou seriamente a
ficar preocupada com a minha saúde mental. – A porta abre com o meu esforço de
a puxar e levo com a quina da porta no ombro. – Maldito sejas!!! Juro-te um
dia, vou levar-te para abate, e vou ver amassarem-te e a ficares a parecer uma
caixa de fósforos amarrotada. E acredita bebé, será melhor que ter um orgasmo.
Muito melhor. – entro no carro enquanto ainda amaldiçoo o desgraçado, e ligo-o.
– Nada que umas ameaças não resultem ein, vês? Até pegaste à primeira. – sorrio
vitoriosa, e saio da garagem, clico no comando para que esta se feche e sigo
caminho em direcção a redacção.
O
caminho até lá ainda é um pouco longo, portanto decido fazer um ligeiro corta
mato e ir por uma estrada de terra batida que se encontra mais adiante do lado
direito, na verdade, porquê perder 30 minutos se posso fazê-lo em 15 minutos? Talvez porque terás de passar por aquela
mansão abandonada e fantasmagórica?
Sim Tico, tens razão. Mas…os meus 5
minutos já se foram. Para de pensar, repreendo-me enquanto me olho no espelho retrovisor.
-Aí
estás tu de novo a falar contigo mesma, isso ainda te vai dar uma viagem a
quatro paredes almofadas. – resmungo comigo mesma e olho para o conta
quilómetros, maldito sejas podias ir mais depressa não é? Carrego no
acelerador, mas o carro simplesmente começa a fazer uns sons estranhos para que
pouco depois uma fumarada horrível saia pelo capô, o motor começa a engasgar e
o carro pára ao fim de uns quantos solavancos. Furiosa, abro a porta e salto
para a rua, batendo com a porta de maneira furiosa enquanto volto a praguejar,
retiro o meu telemóvel do bolso das calças para ligar a Alex mas…. Sem rede.
-Oh
fantástico, maravilhoso. Que mais poderia acontecer agora? – grito para o céu.
– Começar a chover torrencialmente? Oh espera, noite de Halloween, uns
fantasmas?
Super furiosa descarrego a minha raiva no carro, enchendo este de pontapés. Não é inteligente e apercebo-me disso segundos depois quando oiço um estalo e uma dor aguda sobe pelo meu tornozelo a cima fazendo com que desate numa choradeira sem fim. Apoiada no carro, que graças a deus parou de deitar fumo, observo o meu tornozelo cada vez mais inchado.
Super furiosa descarrego a minha raiva no carro, enchendo este de pontapés. Não é inteligente e apercebo-me disso segundos depois quando oiço um estalo e uma dor aguda sobe pelo meu tornozelo a cima fazendo com que desate numa choradeira sem fim. Apoiada no carro, que graças a deus parou de deitar fumo, observo o meu tornozelo cada vez mais inchado.
-
Fantástico, simplesmente maravilhoso, único. – digo entre lágrimas e olho para
o lado, na esperança de que passe algum carro. Mas quem é que iria andar na rua
quase as 5 da manha? Ninguém.
Olho para o outro lado e vejo a maldita mansão
abandonada, bem, pelo menos é esse o aspecto dela. Meio a coxear, meio arrastar
o meu tornozelo, caminho até ao portão desta. Quem sabe, com um pouco de sorte
pode ser apenas um dono desleixado que deixe esta parecer abandonada, mas ser
habitada.
-EI!!!
Alguém em casa? – grito sobre o vento com o rosto encostado as grades, e as
mãos agarradas as grades do portão mas a excepção do vento, não se ouve nada.
Quando me apoio mais no portar este guincha e começa abrir, o som das folhas
secas debaixo dos meus pés, fazem um som horrível e um arrepio frio percorre as
minhas costas.
-Oi??!!
Alguém? Por favor? – a pequenos passinhos vou indo em direcção da mansão, pouco
depois solto o maior grito humanamente possível. Aos meus pés passa um gato
preto a bufar e todo eriçado que desaparece pelo portão atrás de mim. Levo uma
mão ao peito, para tentar acalmar o meu coração e para que o desgraçado não me
saia pela boca. Olho por entre as ervas altas que abanam ao ritmo do vento na
esperança de que saia outro gato e assim já não me assuste. Mas nada, torno a
caminhar em direcção a porta da mansão que esta entre aberta. Provavelmente a mansão é mesmo abandonada e devido a vandalização os
portões estejam abertos. Sim, é isso. Penso para comigo mesma. Finalmente
depois de ter subido os 5 degraus e mau estado. Empurro a porta e esta guincha,
fazendo parecer uma mansão assombrada, com a luz da lua que se dignou aparecer,
vejo que o salão de entrada é enorme, tudo cheio de folhas secas aos cantos da
enorme escadaria. Para uma mansão abandonada, este ainda mantém quadros e
candelabros e tudo mais. Poder-se-ia até dizer que limpando o pó e retirando as
folhas, ficaria uma casa pronta habitar, bem isto sem falar dos vidros
partidos, onde o vento entrar e faz bailar os velhos trapos que um dia deveriam
ter sido belos cortinados. Caminho até a escada e subo os degraus. O meu pé
volta a dar uma dor aguda e eu não intencionalmente grito de dor, caindo de
joelhos nos degraus. Viro-me um pouco para me sentar e tentar tirar um dos
ténis para que este não aperte tanto o meu pé inchado. Quando concluído,
seguro-me ao corrimão das escadas para me levantar e fazer de apoio para subir
as escadas, mas ao olhar para cima, uma vertigem atinge-me, e todos os pelinhos
minúsculos das minhas costas congelam. Um grito de medo, horror e pânico sai do
meu peito ao ponto de me fazer perder os sentidos.
***
Acordo
pouco depois com algo macio em torno de mim, abro um olho para depois abrir o
outro e sorrio feito tolinha. Afinal de contas foi apenas um sonho, muito
assustador. Viro-me para o lado para agarrar o meu telemóvel e nada, franzo o
sobrolho e a sensação de ser observada apodera-se de mim, de forma lenta viro a
cabeça para o lado. E vejo…aqueles olhos de novo em mim, instintivamente levo
as mãos a boca para abafar um grito, e aquela coisa afasta-se um pouco, como
quem não quer assustar.
-Estou
a ter o maior pesadelo de toda a minha maldita vida. – sussurro. E a coisa
inclina a cabeça de lado. Ora vejamos, até seria um caso cómico, se aquelas
dentuças não fosse do tamanho do meu polegar, se aquele pedaço de carne no
nariz não estivesse a vista, ou até mesmo aqueles olhos enormes vermelhos, o
vermelho bastante líquido que faz recordar o sangue… mas não é tudo, ele é
grande, bastante grande, diria do tamanho de um cavalo. Se não passasse de um
mito eu diria que era um cão do inferno.
-
Olha engraçadinho. – digo com a voz mais calma que consigo, mas o medo está
visível na minha voz, tornado ela num guichinho agudo. – Parabéns, tens uma
mascara fantástica. – ele inclina a cabeça para o outro lado e os olhos dele
parecem que me vêem a alma. – Mas, invasão de propriedade é crime, caso não
saibas. – termino com toda a naturalidade que me é possível.
-
Engraçado… - diz a criatura que está ao meu lado mas afastado, a voz é cavernosa, deveras assustadora e sinto até o meu fígado a encolher-se de medo.
– Eu diria que acabaste de invadir o meu espaço. Portanto regendo-me pelas tuas
regras de invasão de propriedade, serias tu… - e aponta com uma garra que faz
lembrar uma faca de cerâmica.
-Oh
céus…tu falas! Oh óbvio que falas, não passas de um mascarado idiota que tenta
assustar as pessoas. – cruzo os braços danada. – Olha por acaso não tens um
telemóvel? É que o meu carro avariou, e eu preciso imenso de chamar o reboque e
o Alex, para me vir buscar.
Ele torna a olhar para mim e desta vez não se limita só a isso, caminha como um predador na minha direcção e eu encolho-me de medo sobre a cama.
Ele torna a olhar para mim e desta vez não se limita só a isso, caminha como um predador na minha direcção e eu encolho-me de medo sobre a cama.
-
Achas mesmo que isto é uma máscara? Convido-te a tirá-la… - o rosto ou
focinho, está colado a mim. Instintivamente as minhas mãos voam até ele, e
tento puxar a mascara, mas a exceção de pelo que fica nos meus dedos, nada mais
vem atrás. Lentamente baixo as minhas mãos, repousando elas no meu colo e olho
para ele.
-
Mas que raio… - salto da cama esquecendo o meu pé, e corro em direção a porta.
Mas depressa sou apanhada, algo atinge as minhas costas e caio de cara no chão.
– Deixa me ir, por favor.
-
Lamento, mas não irás a lado nenhum. Ficarás aqui. – o bafo quente contra a
minha orelha arrepia-me, viro a cara para o lado e olho para aqueles olhos
vermelhos.
-
O que és? – questiono a medo.
-
Um amaldiçoado, e tu… a minha refeição. – se fosse possível abrir ainda mais os
meus olhos eu teria aberto, com um punho fechado, desfiro um murro no Focinho o
cão, este rosna furioso mas solta-me. Corro do quarto para as escadas, descendo
estas de dois em dois. Mas estanco, os meus pés escorregam nas folhas e o meu
traseiro bate no chão, arrancado um gemido de dor.
-
O interessante disto, é que dás luta, mas ambos sabemos qual será o final da
história.
-
Não me digas, vai descobrir que te apaixonaste perdidamente por mim, e que vais
querer ter cachorrinhos? – Sim, fiquei louca, mas a raiva consome-me e se esta
coisa pensa que não darei luta, está enganado. Muito mesmo. Ele solta algo
parecido a uma gargalhada, mas por momentos penso que se engasgou.
-
Talvez apareça um guerreiro para te salvar? – ironiza a coisa.
-
Nunca se sabe, a esperança é a ultima a morrer. – coloco-me de pé, com o meu
tornozelo a protestar e corro para a direita, a dor cada vez mais forte faz-me
chorar. As minhas costas ardem, como o inferno estivesse nelas. Torno a cair,
quando algo bate nas minhas pernas e oiço um som horrível, olhando para baixo
enquanto grito e grito de dor, vejo o osso da minha perna do lado de fora. Ele
bateu-me com a garra das pernas, rasgando a pele e partindo-me a perna, a dor é
insuportável, e nada mais do que gritar de dor e rastejar consigo fazer. Vejo o
prazer no olhar daquele monstro quando caminha a passo decidido em minha direção. Depois de cheirar a minha perna, abre a boca e morde-me arrancando um
pedaço desta. A dor, que eu pensei não ser possível, é ainda pior, subindo pela
minha perna acima e alojando-se no meu estômago, com a perna boa, encolho o
joelho e dou uma patada no focinho dele, furioso atira-se a mim. Seguro a única
coisa que vejo ali perto. Um osso, provavelmente uma costela, e espeto-o num
olho, ele rosna de raiva e com a pata dianteira atinge-me no peito, rasgando-me
a pele, e sinto imediatamente o meu corpo molhado pelo meu sangue. Uma
escuridão tenta abater-se sobre mim, mas recuso-me a deixar-me ir. Furiosa,
magoada e revoltada, pego de novo no osso e espeto ele no outro olho do
monstro, de seguida no pescoço, nunca dando tempo de nada. Ele solta um gemido
e cai sobre mim, pouco depois explode deixando-me com pedaços de carne e pelo
desde os pés a raiz do cabelo. Em choque e por fim aliviada, deixo-me ir e
abraço de bom grado a escuridão que me rodeia. Deixando para trás o medo, as
dores e o frio que o meu sangue deixa no meu corpo.
***
Algo
queima a minha mão, grito e ao mesmo tempo assusto-me com aquela voz , eu já a
ouvi antes, olho em volta, e tento levantar-me mas caio logo de seguida, olho
em volta e ao ver o reflexo no vidro da porta da cozinha grito, grito até não
poder mais. Aqueles olhos vermelhos observam-me, vermelhos e amarelos. O pelo
negro banha todo o corpo daquele ser, mas falta-lhe a pata traseira, olho para
baixo, para o que em tempos foram as minhas mãos… não passam de patas com garras
assustadoras….
-Não!!!!!!!!!!!!!!!!
*Nádia Santos
Muito assustador, mas muito fixe. Adorei o conto, parabéns Nádia.
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