Revirei os olhos e fitei o ecrã do telemóvel, ainda descrente na mensagem que tinha recebido. Carreguei na tecla verde do telemóvel e pus a chamar.
- Eu sei. Eu sei. Fiz asneira. – disse Diana do outro lado da linha sem sequer me cumprimentar. – Mas não dá mesmo querida.
- És sempre a mesma! – resmunguei – Preciso de falar contigo. Preciso desabafar contigo. Vou ficar doida se não falar contigo…
- Oh, meu amor, eu sei… mas não dá mesmo. Tu sabes! – choramingou Diana.
- Ohhhh, olha que nem sabes o que perdes! – contra ataquei em minha defesa, com um exagerado deleite na voz.
- Não, não faças isso! Peço-te! – Implorou Diana.
- Oh, mas faço. Eu e ele… - troquei o telemóvel de orelha - Ele e eu…
- Cabra… - disse ela entre dentes, serrados. – és mesmo má! Ouviste?
- Não, tu é que és! Bolas Diana, eu estou viva, o teu amiguinho está morto e ainda assim, desmarcas-te o nosso café.
- Amiguinha.
- O quê?
- Amiguinha morta. É uma ela. – justificou a minha amiga serenamente.
- A sério, tu não és nada normal. – disse eu entre risos.
- E então, o que aconteceu? – perguntou ela, guloso por saber mais detalhes.
- Estás de castigo. Não te vou contar pelo telefone.
- És mesmo muito má! Devias ter vergonha. Isso não se faz.
- Também te adoro Di. – disse.
- Sim, eu também…. Mas vais paga-las. Quando terminar passo pela tua casa. Nem que estejas a dormir, vais ter que me contar!
- Estou a trabalhar! – disse eu a rir.
- Oh, a sério? Melhor ainda, passo no hotel para falarmos.
- Diana, vou estar a trabalhar…
- Até logo meu amor… - disse ela, para desligar o telefone logo de seguida. Ri-me como uma tola, sabendo que Diana cumpriria a sua palavra, a menos que aparecesse mais algum morto a precisar de ser despachado, preparado e aprumado.
E enquanto não chegava a hora de entrar ao trabalho, dediquei-me à separação e triagem das roupas velhas que tinha dentro do roupeiro.
…
Bolas! O saco de roupa que saiu do meu armário, directamente para o contentor de recolha para os mais carenciados pesava como se fosse cimento. Sou sincera, só tirei a roupa que já não usava há mais de um ano, pelo menos, mas ainda assim, o saco era daqueles pretos enormes e vinha cheiinho até à rolha. E eu que pensava que afinal até não gastava muito dinheiro em roupa… Mas pelo menos as minhas roupas usadas, em muito bom estado na sua grande maioria, vão fazer jeito a alguém.
Deliciada com a minha atitude, e com muito bom humor, regressei a casa nas calmas. Os meus pensamentos oscilavam entre os meus pesadelos passados, que ainda me causavam arrepios, e os acontecimentos recentes, que envolviam os músculos do Gil, o corpo do Gil, as pernas do Gil e oh meu Deus… as mãos do Gil… Preocupada que alguém me estivesse a espiar os pensamentos menos próprios para aquela altura do dia, olhei à minha volta, com plena consciência que estava corada como um pimento maduro. Não estava ninguém inicialmente, até que um mono volume familiar estaciona junto ao passeio e de lá saem dois meninos gémeos com os seus quatro ou cinco anos de idade a correr em direcção a um portão. Os gritos da mãe, a adverti-los para não correrem chamou-me ainda mais a atenção, e quando dei por mim, estava a ajudar a senhora que, com uma bebé ao colo, tentava tirar os sacos das compras do carro, fechar o carro e não deixar que os seus filhotes corressem sem juízo pelo passeio, um atrás do outro.
- Oh, muito obrigado. – disse ela, visivelmente aliviada. – O meu marido não está cá, tive que levar a Joaninha ao médico e aqueles dois são movidos a energia nuclear.
- Está doente a menina? – perguntei, enquanto andávamos em direcção ao portão. A menina dormia serena nos braços da mãe. Mas na verdade estava demasiado rosada, possivelmente derivado à febre.
- Uma gastroenterite. A minha sorte – disse a mulher com um enorme sorriso e um brilho no olhar – é que ela tem um excelente pediatra. O Dr. Gil é qualquer coisa…
Quando a palavra Gil, suou nos meus ouvidos, confesso que nem assimilei, no entanto, depois de dar dois passos estaquei, e fiquei presa ao rosto angelical de bebe a imagina-lo a tratar da menina. Uma gastroenterite não é uma coisa levezinha, que passe com muito colinho e mimo. É perigoso, e se ele ajudou aquela pobre mãe, só podia ser boa pessoa.
Imediatamente, um enorme sorriso apoderou-se dos meus lábios e dei por mim a sorrir como uma tonta. A mãe dos pequenos gabou a qualidade do pediatra, mal sabendo ela que eu e ele tínhamos uma espécie de relação entre ambos.
Bom, tínhamos feito sexo, não é verdade? E ele tinha dito para nos vermos no dia seguinte, não foi? Bem, podia não ser uma relação assumida, mas podia vir a ser, certo? Certooooo.
- Muito obr…. Miguel, Gabriel? Venham para dentro. – os miúdos correram porta dentro, quase derrubando a mãe – Como estava a dizer, muito obrigado pela ajuda. E já sabe, se um dia for mamã, escolha o Dr. Gil para pediatra. Ele faz milagres por eles… e por nós…
Acenei à senhora e aos miúdos e regressei à minha rota, pensando com os meus botões que era desta. Se calhar tinha mesmo chegado a hora de assentar, ter uma família, filhos… e bem, nada melhor que um pediatra bonito e profissional, para pai dos meus filhos, não é verdade?
Não Eloisa, não é verdade. Conheces o gajo nem à quarenta e oito horas, o que houve entre vocês foi única e exclusivamente química sexual e tu aí a fantasiar com filhos e família e isso tudo? Acorda rapariga, ele pode não ser o que tu pensas que ele é…
Afastei os maus pensamentos dirigidos a mim através da minha consciência. Bolas, já tinha sofrido que chegasse no que a homens dizia respeito. Então o meu último fiasco era para apagar completamente da memória. Gil tinha aparecido como um anjo ruivo e sexy que me salvara da depressão eterna.
Sim, ia continuar a fantasiar com ele. Sim, quando o visse outra vez teríamos novamente sexo. E sim, queria ter filhos com ele. Montes de filhos. Podíamos até fazer como fazem os coelhos, se isso implicasse ser feliz, então aceitaria de bom grado uma carrada de filhos com cabelos ruivos e sorrisos malandros.
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